Epigenética

16-03-2011 12:58

Saiba o que está para além dos genes

 

    Ao contrário do que durante muito tempo se pensou, os genes não têm o controlo exclusivo da nossa identidade. Hoje, acredita-se que outros factores, designadamente ambientais, podem alterar a nossa expressão genética. Mas como?

    Podem o desporto e uma alimentação equilibrada, ou até as técnicas anti-stress (yoga, meditação) praticados pelos pais vir a traduzir-se num bem-estar que é herdado pelos filhos? E se assim for, até que geração?

    Estas e outras perguntas, que ainda permanecem por esclarecer cabalmente, constituem um dos maiores desafios da Epigenética humana para os próximos tempos. Um mundo novo e curioso à sua espera neste artigo.

    Durante vários anos, as investigações científicas debruçaram-se essencialmente sobre o ADN (código genético). Os cientistas já conhecem há alguns anos os processos epigenéticos «mas nem sempre os valorizaram», explica Lars Jansen, investigador do Instituto Gulbenkian de Ciência (IGC). Só de há 15 anos para cá é que as investigações em mecanismos de Epigenética a nível molecular foram iniciadas, estando actualmente mais em voga.

    

    No fundo, para além dos genes que são constituídos por sequências de ADN, «outra informação epigenética é propagada durante a divisão celular. Isto permite manter a identidade de determinada célula», explica Lars Jansen. Embora todas as células do organismo humano possuam os mesmos genes, as suas identidades são diferentes. «Uma célula do intestino e uma célula da pele são diferentes não por terem genes diferentes, mas devido ao facto de os genes que estão ligados e desligados não serem os mesmos», salienta João Ferreira, investigador do Instituto de Medicina Molecular, em Lisboa.

    Estas duas células são comparáveis a duas gambiarras de luz idênticas, «ambas com lâmpadas vermelhas e verdes, só que na célula do intestino estariam acesas apenas as lâmpadas vermelhas e na da pele apenas as verdes (e apagadas as vermelhas)». Nesta analogia, as luzes são os genes, e estarem acesos significa estarem activos, isto é, «estarem a ser lidos pelas células, a transmitir as suas mensagens e a exercer as suas funções», adianta João Ferreira.

 

 

in Sapo Saúde